Um lugar silencioso e a importância do silêncio.

Maysa Costa
4 min readFeb 5, 2019

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Sem spoilers

O filme acompanha uma família que vive em absoluto silêncio, pois tenta sobreviver perante as adversidades que um futuro pós apocalíptico trouxe para o mundo.O longa abre logo com uma cena que nos mostra que há problema em se fazer barulho, mas sem maiores explicações fazendo o senso de ameaça saltar nos espectadores.

Cena do filme “Um lugar silencioso” (2018)

O primeiro ato é dedicado a explorar a vivência daquela família com o silêncio, não há diálogos e é tudo muito cuidadoso, vemos os personagens preenchendo caminhos com areia e falando em língua de sinais, onde marca a problemática que sons possuem na situação que eles vivem e nos deixa acostumar com o modo de viver dos personagens e como eles reagem a cada coisa.

No segundo ato, entendemos melhor o contexto pós apocalíptico que eles vivem por meio dos elementos em cena, vemos marcas que aparecem em casas e como está as coisas ao redor, o espectador passa a entender melhor o filme sem precisar de artifícios expositivos.

Já o terceiro ato traz algumas convenções narrativas, com o roteiro forçando a barra para alguns acontecimentos entrarem em um clímax, mas esse clímax é empolgante e sádico (um bom sinal para um filme de terror), pois colocam os personagens em situações que são as mais impossíveis de se fazer silêncio.

Millicent Simmonds e Emily Blunt em “Um lugar silencioso” (2018)

Embora os personagens não tenham muito desenvolvimento o elenco é muito bom. John Krasinski tem uma atuação modesta e transmite o desespero de um pai que não sabe se vai conseguir proteger a família e o Noah Jupe é operante como o irmão mais medroso que precisa se superar para sobreviver. Entretanto, as estrelas do filme são a Millicent Simmonds e a Emily Blunt. A Millicent Simmonds é o arco dramático da família é a que tem mais desenvolvimento, pois apesar de ser a mais corajosa, por causa do seu problema auditivo acredita ser um peso para a família. Ela é a que apresenta mais perigo por conta da sua condição auditiva, pois não consegue distinguir quando um som se torna muito alto.

Emily Blunt em “Um lugar silencioso” (2018)

Já a Emily Blunt faz um trabalho impressionante de segurar emoções, ela passa por momentos de dor, pânico, emoção e transmite tudo com as expressões, pois precisa se conter por causa da premissa da história, é um trabalho de “atuar para dentro”, uma introspecção das emoções admirável.

São poucos os filmes que usam o silêncio com sabedoria para construir uma atmosfera de terror, a maioria deles usa uma trilha sonora muito presente, dando uma previsibilidade ao filme, pois quando ela para de tocar é o indício de que há algo errado ou utilizam o recurso de altos acordes quando a cena fica em absoluto silêncio e causa um susto no espectador . No caso de “Um lugar silencioso” esses recursos são poucos utilizados, apesar de eu achar que o filme ficaria melhor sem alguma trilha envolvida, a trilha sonora existente preenche quando há necessidade e é deixada de lado quando precisa, sem entregar as surpresas.

John Krasinski e Noah Jupe em “Um lugar silencioso” (2018)

O diretor-ator John Krasinski utiliza o silêncio tanto como elemento narrativo quanto para aumentar a sua importância fazendo dele o foco do filme, para auxiliar nessa ideia tem-se o trabalho de mixagem e edição de som que está fantástico, ao escutar qualquer barulhinho bate a apreensão de ter sido alto demais. Tudo isso porque objetos banais podem fazer um barulho estrondoso dentro do contexto do filme. É uma experiência sensorial muito forte, pois o barulho tem um peso muito maior nesse filme do que nos filmes tradicionais de terror, fazendo com que até jumpscares funcionem nesse filme.

“Um lugar silencioso” é um filme tenso, impactante e atmosférico que agrada tanto aos apreciadores de terror com jumpscares quanto os apreciadores de um terror thriller.

Um breve comentário: Algo que me deixou encantada com o filme foi a edição de som dele nos mostrando que a garota é surda sem recorrer a diálogos expositivos. Ao escutarmos um barulho do ponto de vista dos outros personagens, percebemos a ameaça de perigo. Já quando “escutamos” esse mesmo barulho do ponto de vista dela, vemos que há algo de errado, pois só escutamos um zumbido e muito mal, indicando que a garota tem problemas auditivos.

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Maysa Costa

Amante de filmes, desenhos, livros, séries, HQ’s e cultura pop em geral