Um lugar silencioso e a importância do silêncio.
Sem spoilers
O filme acompanha uma família que vive em absoluto silêncio, pois tenta sobreviver perante as adversidades que um futuro pós apocalíptico trouxe para o mundo.O longa abre logo com uma cena que nos mostra que há problema em se fazer barulho, mas sem maiores explicações fazendo o senso de ameaça saltar nos espectadores.
O primeiro ato é dedicado a explorar a vivência daquela família com o silêncio, não há diálogos e é tudo muito cuidadoso, vemos os personagens preenchendo caminhos com areia e falando em língua de sinais, onde marca a problemática que sons possuem na situação que eles vivem e nos deixa acostumar com o modo de viver dos personagens e como eles reagem a cada coisa.
No segundo ato, entendemos melhor o contexto pós apocalíptico que eles vivem por meio dos elementos em cena, vemos marcas que aparecem em casas e como está as coisas ao redor, o espectador passa a entender melhor o filme sem precisar de artifícios expositivos.
Já o terceiro ato traz algumas convenções narrativas, com o roteiro forçando a barra para alguns acontecimentos entrarem em um clímax, mas esse clímax é empolgante e sádico (um bom sinal para um filme de terror), pois colocam os personagens em situações que são as mais impossíveis de se fazer silêncio.
Embora os personagens não tenham muito desenvolvimento o elenco é muito bom. John Krasinski tem uma atuação modesta e transmite o desespero de um pai que não sabe se vai conseguir proteger a família e o Noah Jupe é operante como o irmão mais medroso que precisa se superar para sobreviver. Entretanto, as estrelas do filme são a Millicent Simmonds e a Emily Blunt. A Millicent Simmonds é o arco dramático da família é a que tem mais desenvolvimento, pois apesar de ser a mais corajosa, por causa do seu problema auditivo acredita ser um peso para a família. Ela é a que apresenta mais perigo por conta da sua condição auditiva, pois não consegue distinguir quando um som se torna muito alto.
Já a Emily Blunt faz um trabalho impressionante de segurar emoções, ela passa por momentos de dor, pânico, emoção e transmite tudo com as expressões, pois precisa se conter por causa da premissa da história, é um trabalho de “atuar para dentro”, uma introspecção das emoções admirável.
São poucos os filmes que usam o silêncio com sabedoria para construir uma atmosfera de terror, a maioria deles usa uma trilha sonora muito presente, dando uma previsibilidade ao filme, pois quando ela para de tocar é o indício de que há algo errado ou utilizam o recurso de altos acordes quando a cena fica em absoluto silêncio e causa um susto no espectador . No caso de “Um lugar silencioso” esses recursos são poucos utilizados, apesar de eu achar que o filme ficaria melhor sem alguma trilha envolvida, a trilha sonora existente preenche quando há necessidade e é deixada de lado quando precisa, sem entregar as surpresas.
O diretor-ator John Krasinski utiliza o silêncio tanto como elemento narrativo quanto para aumentar a sua importância fazendo dele o foco do filme, para auxiliar nessa ideia tem-se o trabalho de mixagem e edição de som que está fantástico, ao escutar qualquer barulhinho bate a apreensão de ter sido alto demais. Tudo isso porque objetos banais podem fazer um barulho estrondoso dentro do contexto do filme. É uma experiência sensorial muito forte, pois o barulho tem um peso muito maior nesse filme do que nos filmes tradicionais de terror, fazendo com que até jumpscares funcionem nesse filme.
“Um lugar silencioso” é um filme tenso, impactante e atmosférico que agrada tanto aos apreciadores de terror com jumpscares quanto os apreciadores de um terror thriller.
Um breve comentário: Algo que me deixou encantada com o filme foi a edição de som dele nos mostrando que a garota é surda sem recorrer a diálogos expositivos. Ao escutarmos um barulho do ponto de vista dos outros personagens, percebemos a ameaça de perigo. Já quando “escutamos” esse mesmo barulho do ponto de vista dela, vemos que há algo de errado, pois só escutamos um zumbido e muito mal, indicando que a garota tem problemas auditivos.