Subgêneros do terror parte 2

Continuação do texto “Subgêneros do terror”

Maysa Costa
16 min readDec 23, 2018

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P.S: Tudo que tá em itálico são minhas opiniões a respeito da minha experiência com o filme que indiquei.

6. Monstros

Filmes com personagens não humanos, ou humanos que sofreram mutação, como no caso de experimentos que deram errado. Às vezes esses filmes beiram o trash e o cômico, principalmente quando os recursos financeiros não são suficientes para criar um monstro realista. Entretanto, Hollywood teve uma fase de “monstros” e a empresa que foi mais favorecida por isso foi a universal. Os famosos “monstros da universal” tiveram sua era de ouro dos anos 30 até os anos 50.

Christopher Lee numa cena do filme “Drácula: O vampiro da Noite” (1958)

Estrelado por Christopher Lee, que ficou icônico por seu papel com vampiro após esse filme, “Drácula” é uma adaptação do clássico livro de mesmo título de Bram Stocker, mostra como Jonathan e o Dr. Van Helsing tem suas mudadas ao cruzar o caminho do Conde Drácula. Nesse clássico dos anos 50, Lee traz uma nova roupagem para a imagem de vampiro, além de ser a criatura pálida, de capa preta e roupa com gola alta, tornou-se também aquele com caninos a mostra. A ideia de que vampiros tem presas saltando e de que são pessoas bonitas , elegantes e até mesmo sedutoras foi culpa desse filme que aprimorou a imagem dos vampiros que temos hoje em dia.

Essa foi minha primeira indicação pois, eu cresci ouvindo sobre Christopher Lee e como ele era “O melhor Drácula” nas palavras do meu pai. Assisti a esse filme ainda muito nova e até tive medo (meus medos de infância se resumiam a vampiros ,lobisomens e crescer). Depois de grande percebi que meu pai estava certo ao dizer que Lee é o melhor drácula ,não querendo desmerecer o incrível trabalho de Béla Lugosi em 1931, mas essa obra de 1958 criou um estilo e uma marca para o Conde Drácula que se perpetua até hoje.

Cena do filme “O monstro da Lagoa Negra” (1954)

“O monstro da lagoa negra” acompanha uma expedição ao rio Amazonas que encontra um fóssil de uma criatura primitiva, na qual os cientistas acreditam que pode ser uma espécie que tem um elo perdido entre mamíferos e anfíbios, tudo muda quando eles descobrem que há um dessa espécie vivo. Apesar da história um tanto clichê, essa obra tem um grande marco pela sua fotografia (principalmente as cenas subaquáticas) e pelo design de produção, o monstro criado serviu para diversos diretores tomarem ele como aparências -destaque para Abe Sapiens (Hellboy), o alienígena (Alien) e a criatura (A forma da água).

Escolhi esse filme para ser um dos indicados desse gênero justo porque em 2009 eu estava totalmente obcecada pelo “Labirinto do Fauno” e fui procurar outros filmes do Del Toro e também procurei as inspirações dele para as criaturas na qual criava e descobri “O monstro da Lagoa Negra”. Sendo sincera, esse filme não deve ter metido medo em ninguém, mas deve ter encantado muita gente, o roteiro não é dos melhores, mas o filme é tão cuidadoso em seu cenário, no modo como foi filmado que você o assiste sem nem ver o tempo passar.

Cena do filme “O Despertar dos Mortos” (1978)

Dirigido por George A. Romero, “Despertar dos Mortos” mostra um mundo pós-apocalíptico por causa de mortos vivos e acompanha Roger, Peter, Francine e Stephen que tentam sobreviver a esse estranho fenômeno se abrigando dentro de um shopping. A ideia de fazer esse filme surgiu quando um amigo de Romero disse que qualquer pessoa sobreviveria a um apocalipse zumbi se estivesse em um shopping. “Despertar dos mortos” foi o segundo filme de George a evocar a ideia de “apocalipse zumbi” (ideia na qual ele criou em “noite dos mortos vivos”). Além de ter um olhar muito próprio sobre a humanidade, essa obra de 78 traz também um visual muito gráfico de zumbis que mudou a maneira de retratar filmes desses monstros.

A minha escolha por “Despertar dos mortos” é muito mais por eu ser uma grande admiradora de George Romero que fazia um “terror consciente” antes mesmo desse termo existir. Ele tinha um olhar muito próprio sobre os valores da sociedade (utilizei isso até em uma introdução de redação para o enem) e sempre fazia um filme de terror ser uma obra de reflexão. Por exemplo, em uma das cenas de abertura desse filme , num take do shopping, nós vemos as pessoas andando pelo shopping, entrando em lojas, ignorando uns aos outros agindo da mesma maneira que zumbis (tanto é que quando as pessoas viram zumbis de verdade, a única diferença é a procura por carne humana e o tom da pele).

7. Sci-Fi

A ficção científica no terror consiste em escrever sobre mundos diferentes, futuros e cenários alternativos possíveis de maneira racional. Encontram-se elementos imaginários, mas que são inspirados em coisas reais ou do passado. A maior parte das ficções científicas são relacionadas a mundos externos da terra ou distopias.

Cena do filme “O Predador” (1987)

Estrelado por Arnold Schwarzenegger, “o predador” narra a história de um grupo de soldados das forças especiais que viajam para uma selva da América Central para resgatar membros do governo que estavam sendo mantidos reféns por guerrilheiros, mas chegando lá encontros outros desafios além dos guerrilheiros. O fato de ser considerado um terror de sci-fi se dá principalmente pela aparência do predador, tanto como vantagens imensas que eles tem comparando-os com os humanos, como por exemplo um poder de se camuflar muito facilmente fazendo com que o perigo seja esperado a qualquer momento. Um fator desse filme ter chamado tanta atenção na época foi que, diferentemente de outros filmes envolvendo alienígenas, esse não se tratava de uma invasão deles na terra, mas sim como uma “visita” recorrente por causa das suas práticas de caça.

Não escolhi “O predador” para indicar apenas por ser um clássico, mas também porque a criatura desse filme tem um dos visuais mais horrendos para criaturas de filmes de terror que já vi na vida (com certeza fez inveja ao Del Toro). Unindo ação com terror, “o predador” consegue meter medo e temer pelo protagonista pela situação inusitada na que ele se meteu. Se nada disso te convenceu, pense que é uma ótima diversão escapista com o Schwarzenegger interpretando a ele mesmo (como sempre badass) e quebrando tudo (como sempre).

Cena do filme “Um lugar silencioso” (2018)

“Um lugar silencioso” acompanha uma família que vive numa Terra pós-apocalíptica e precisam lidar com criaturas de uma audição hipersensível. Com direção de John Krasinski que também atuou ao lado de Emily Blunt nesse mesmo longa, “um lugar silencioso” traz inovação ao fazer terror que geralmente é muito dependente do som para assustar, como jumpscares ou aumento repentino da trilha sonora, de forma silenciosa. O filme mal tem diálogos e o uso da edição de som é admirável ao fazer barulhos corriqueiros parecerem estrondosos, já que é a única fonte de som possível na narrativa.

O que me fez se interessar por esse filme foi saber que uma das atrizes é surda, até porque não é todo dia que se vê esse tipo de inclusão em Hollywood. Entretanto, ao assistir o filme fiquei embasbacada tanto por causa da atuação da garota mirim que mostrou a todos que não entendiam que cinema é muito mais “me mostre” do que “me fale”, quanto pelo fato de um filme ter tão poucos sons e ser tão angustiante como se fosse um filme em modelo comum para o terror. Um lugar silencioso é um filme engajante e que nos deixa de cabelos em pé do início até o fim (tanto de medo quanto de angústia)

Cena do filme “O nevoeiro” (2007)

Baseado em um conto de Stephen King, “o nevoeiro” é um filme que mostra cidadãos do Maine tendo que lidar com um nevoeiro que atinge o estado. Em meio a um caos um pai e seu filho ficam presos em um supermercado junto com outras pessoas que precisam se unir para tentar sair da situação. Dirigido por Frank Darabont (que também dirigiu “Um sonho para liberdade”), “o nevoeiro” mostra como o medo e a vontade de viver torna os seres humanos muito agressivos entre si.

Eu assisti “o nevoeiro” na TV a cabo (na curta época que tive TV a cabo) e senti um misto de raiva e reflexão. O que mais me levou a reflexão foi me indagar do porquê mesmo com toda situação aquelas pessoas não estavam se unindo para tentar se salvar e me veio a mente toda a problemática do ser humano se relacionando com outro ser humano, principalmente quando este último é desconhecido ou está fora do círculo de amizades do primeiro. Muitas vezes nos damos mal por não saber conviver em sociedade e se ajudar, eu realmente não pensaria que entraria numa reflexão dessas vendo um filme de terror.

8. Horror cósmico

Inspirado pelo escritor H.P. Lovecraft e sua ficção sobrenatural, esse tipo de subgênero trata de histórias de terror que envolvem fenômenos relacionados ao ocultismo, tais como possessão astral e miscigenação alienígena, além de tratar dos universos inalcançáveis que as criaturas cósmicas vivem que é impensável para os humanos e, que quando ocorre essa relação humano-criaturas, os levam a loucura. Mais que isso, Lovecraft criou livros que evocavam a insignificância da humanidade frente aos enigmas do universo.

Cena do filme “Alien- o oitavo passageiro” (1979)

Dirigido por Ridley Scott, “Alien” acompanha a subtenente Ripley e a tripulação da Nostromo , nave que estava saindo de um planeta levando minério para Terra. Depois de receber uma transmissão de um planeta, a nave acorda a tripulação que estava no criossono e coisas estranhas passam a acontecer. O oitavo passageiro tem ligações assumidas com as obras de Lovecraft, principalmente no design do alien em questão. O que poucas pessoas sabem é do trabalho que foi para encontrar alguém que coubesse na roupa de xenomorfo e que aguentasse o peso dela (a cabeça pesava cerca de dois quilos), por causa da dificuldade, Ridley Scott decidiu que a criatura só apareceria em momentos estratégicos e que a música trataria de elevar os clímax do filme, muito mais que a aparição do alien.

Bem, se você quer apenas um motivo para assistir a “Alien-o oitavo passageiro” , o melhor de todos é que a Siagourney Weaver foi a primeira mulher a protagonizar um filme que envolvia ação da parte da personagem (vamos nos lembrar que era 1979 e mulheres quando não eram sexualizadas em filmes de terror/ação, elas eram as primeiras a morrer, ou só viviam porque era virgens), uma personagem feminina nos anos 70 que mata alienígenas não se ver todo dia não é mesmo?

Cena do filme “O enigma do outro mundo“ (1982)

“O enigma de outro mundo” conta a história de uma equipe que está em uma estação científica na Antártida e é surpreendida por um homem que estava perseguindo um cachorro de maneira obsessiva, ao investigar mais a respeito disso, essa equipe descobre que há um tipo de alienígena que assimila a forma de criaturas vivas da Terra e que ninguém pode mais confiar em ninguém. Dirigido por John Carpenter (que dirigiu Halloween, na qual foi mencionado na parte 1 do texto), esse filme foi icônico para o gênero, pois traz a essência lovecraftiana descaradamente (o contato criatura-humano que chega a ser danoso a existência de ambas as partes). “O enigma do outro mundo” é o primeiro filme da trilogia “apocalíptica” de Carpenter, seguido por “Príncipe das trevas” e “À beira da loucura”, este último contendo muitas referências a livros do Lovecraft.

O que mais gostei em “O enigma de outro mundo” foi toda a tensão construída envolta do não saber quem é seu inimigo e a grande desconfiança que nos envolve a respeito de todos os personagens.Se toda essa vibe “alienígena” que assimila o corpo de seres vivos terrestres, unindo horror cósmico+ suspense+terror não te pegou o bastante, talvez a incrível trilha sonora de Ennio Morricone (criou as trilhas da maioria dos filmes de faroeste dos anos 60) possa te convencer.

Aqui é um bônus caso você ACHE que não conheça o trabalho do Ennio Morricone, porque todo mundo conhece, mas pode não saber que conhece.

Cartaz do filme “It-A coisa” (2017)

Passando-se na cidadezinha de Derry, no Maine, onde crianças estão desaparecendo misteriosamente, sete crianças se unem para evitar que isso se perpetue. Adaptado da obra de Stephen King de mesmo nome, “It-a coisa” evoca o H.P Lovecraft no sentido de origem nessa criatura (apesar de não ser explicado na parte 1 desse filme direito), Pennywhise é uma criatura que veio do espaço, com uma origem quase igual ao Cthulhu do conto “o chamado de cthulhu”. Respeitando todo o conceito criado por King, o diretor Andy Muschietti, evoca obras como “Os Gonnies” e “Conta comigo” quando trabalha as dinâmicas entre as crianças e traz a ameaça da coisa em paralelo a isso fazendo com que a nossa apreensão triplique quando há perigo por perto (tanto da parte da criatura, quando da parte dos adultos, que algumas vezes são muito mais monstros que a própria coisa). Muito mais que medo e palhaços, “It-a coisa” é sobre crianças desajustadas que encontram consolo umas nas outras.

Eu fiquei apaixonada por esse filme de 2018 em um nível que eu falo para as pessoas assistirem a essa versão e não a antiga (e isso é muito raro de eu comentar). Além de ter a essência do livro que, pasmem, não é um livro sobre terror ou palhaços como muitos acham, mas é sobre a força de uma amizade, “It- a coisa” equilibra momentos engraçados com tensos que nos fazem se envolver com os personagens de maneira que tememos o que acontece com eles, ou seja, o ápice da tensão é muito mais impactante porque torcemos por eles.

9. Psicológico

Os filmes retratam situações adversas, inesperadas, tudo num ponto de vista pessoal do personagem principal. Retrata a vulnerabilidade da mente humana com o telespectador de plateia mergulhando fundo na história. Ao contrário do terror padrão que traz desconforto com sangue, violência e a crença do telespectador, o terror psicológico é o que perturba internamente ao deixar quem assiste matutando a respeito do que é real e o que é surto.

Cena do filme “O Bebê de Rosemary” (1968)

Não tem como falar em terror psicológico e não citar “o bebê de Rosemary” e o poder da sugestão que esse filme tem exemplifica todo o contexto de psicológico do terror. Dirigido por Roman Polanski, o filme narra a história de Rosemary e seu marido Guy que se mudam para um apartamento em Nova York, pois ele está procurando oportunidades como ator, eles se instalam em um apartamento com vizinhos acolhedores, mas coisas estranhas começam acontecer depois que Rosemary descobre que está grávida. Que Polanski é um diretor competente ninguém tem dúvidas, mas essa obra dele é muito ilustre e marcante, por brincar com as possibilidades, as coisas são reais ou é apenas um surto da moça? O diretor nos mostra que imagens sugestivas podem nos deixar com mais medo do que muitos terrores explícitos que há por aí.

Eu realmente gosto muito do “Bebê de Rosemary” porque ele é um daqueles filmes que nos fazem teorizar muitas coisas ao longo dele, entretanto, ao acabar, ele nos satisfeitos, ainda que um pouco intrigados. Os acontecimentos que rodeiam o filme em si também me deixam instigada por ele, por exemplo, a Mia Farrow recebeu os papeis do divórcio com Frank Sinatra depois que ele viu o filme e ficou chateado com a cena de nudez, fora que ele não queria que ela estivesse nesse filme. Todavia, os boatos de que o filme é amaldiçoado tomaram mais força em 1969 por causa do brutal assassinato de Sharon Tate (esposa de Polanski que estava grávida) e seus amigos que foram chacinados pelos seguidores de Charles Manson o caso ficou conhecido como o caso Tate-LaBianca que será adaptado por Quentin Tarantino (filme Once Upon a Time in Hollywood) que será lançado em 2019.

Cena do filme “Boa Noite, Mamãe” (2014)

“Boa noite, mamãe” é um filme austríaco na qual acompanhamos dois gêmeos que desconfiam que sua mãe, que está em um pós operatório de uma cirurgia estética, não seja a mesma de sempre por causa do seu comportamento estranho. Assim como os outros bons filmes que envolvem a psique, esse nos faz supor as coisas a ponto de ficar paranoico e desconfiar de todos. Sendo um filme de poucos personagens, a mãe e as duas crianças, o diretor e o roteiro ora nos faz ficar ao lado das crianças, ora do lado da mãe, nos dando a sensação de estar acompanhando um jogo de tênis e ver suas teorias batendo e rebatendo de ambos os lados.

Eu achei esse filme bem do nada e arrastei minha prima para assistir comigo, pois ela é minha âncora de “topar qualquer filme/série”. Para pessoas mais treinadas em terror e suspense, o filme pode não trazer tantas surpresas assim, mas a sensação de desconforto trazida pela atmosfera de terror psicológico e paranoia são bastante eficazes para manter os espectadores até o final do longa. Apesar de ter algumas digressões narrativas, o filme me conquistou pelas teorias que ele me fez criar, isso me faz sentir envolvida com os acontecimentos do longa e eu acredito que ao se importar com o que acontece no filme ele já vale a pena.

Cena do filme “A Bruxa” (2015)

Dirigido por Robert Eggers, “A Bruxa” acompanha uma família que foi excomungada de um feudo para viver no campo plantando sua própria comida e criando seus próprios animais. Entretanto, tudo muda com o desaparecimento de Samuel, o irmão caçula de Thomasin. Sendo um filme repleto de simbolismos,”A bruxa” traz temas aquém do terror, como família, repressão, sexualidade e fanatismo religioso e como tudo isso afeta uma família cujos próprios integrantes enganam uns aos outros em prol das coisas que acreditam.

O que me trouxe curiosidade a respeito desse filme foi sem dúvidas as opiniões divididas: um grande público decepcionado esperando um filme de terror convencional e a crítica aclamando o filme por subverter o tema, mostrando muito mais com simbolismos e sutilezas do que com chuva de explicações que acontece comumente. O resultado dessa divisão de emoções me fez ver o filme e adorar, realmente é um outro olhar para bruxaria. “A bruxa” nos faz refletir as consequências do fanatismo religioso e a repressão intelectual e sexual e evoca a liberdade da mulher em ter suas escolhas e opiniões.

10. Thriller

Ele é marcado pelo mistério, pelo suspense e pelo medo que é criado aos poucos. Os personagens geralmente são colocados em situações que a primeira vista é impossível de escapar. Um dos fatos mais interessantes desse subgênero é que ele está presente em outros gêneros do cinema, como ação, ficção científica e criminal.

Cena do filme “Corra!” (2017)

“Corra!” acompanha a história de Chris, fotógrafo negro que vai conhecer a família de sua namorada, Rose, que é de classe média, todo o problema acontece quando ele percebe que há algo de errado com os moradores da casa da família de Rose. Dirigido pelo comediante Jordan Peele e vencedor do Oscar de melhor roteiro, “Corra!” mostra um racismo velado que nos acompanha até os dias atuais e usa como pano de fundo um terror thriller muito bem bolado. O protagonista feito por Daniel Kaluuya passa por situações desconfortáveis e aguenta comentários que parecem ser inofensivos, mas que guardam um preconceito de anos.

Se “Corra!” fosse apenas um filme que se trata de como o racismo ainda é presente nos dias atuais ele ainda seria maravilhoso. Entretanto, ele é muito mais que isso, ele nos envolve em uma teia de intrigas que nos faz se perguntar “onde diabos o Chris tá se metendo??”, nos faz teorizar coisas e temer pelo nosso protagonista. De maneira irreverente, Chris lida com o horror do racismo e com o horror dos acontecimentos que ele presencia e me faz não ter alguma dúvida do Oscar merecidíssmo para o Jordan Peele.

Cena do filme “Os Outros” (2001)

Dirigido pelo hispânico Alejandro Amenábar e protagonizado pela Nicole Kidman, “Os Outros” trata-se de uma história de uma família que acaba de se mudar para uma mansão isolada em uma ilha, afim de esperar o retorno do patriarca da família. Por causa dos seus dois filhos que possuem uma doença rara, Grace (matriarca da família) deixa a casa sempre em total escuridão, coisas estranhas acontecem depois que ela contrata empregados para a mansão que não seguem essas regras. De início “Os outros” pode parecer um filme de terror thriller convencional, mas ao se envolver cada vez mais com a história, ele nos surpreende e nos mostra que às vezes não enxergamos coisas que estão bem debaixo do nosso nariz.

“Os outros” é aquele filme que as pessoas que indiquei relutaram para assistir, mas quando assistiram gostaram bastante. Com uma trama envolvente e tensa, o filme nos leva a observar a psique de Grace e seus filhos, como o isolamento afeta o discernimento do ser humano e como, muitas vezes, o óbvio não é percebido, por querermos enxergar o que achamos necessário.

Cena do filme “Verão de 84” (2018)

Sendo um filme independente que passou no festival de Sundance desse ano, “Verão de 84” acompanha as férias de verão de 4 jovens que suspeitam que o vizinho de um deles seja um assassino serial. Imagine “Goonies” misturado com “Paranoia” e toques de zoeiras a respeito dos clichês do terror, esse filme nos faz sentir a nostalgia dos anos 80 (mesmo se você não pertenceu a ele) e traz imagens de amizade, confiança e gostinho que era inventar coisas para fazer nas férias (mesmo que isso fique bastante sério depois).

Apesar de ter um desenvolvimento um tanto clichê e ao longo do filme você provavelmente terá a sensação de “ Eu já vi isso em algum lugar” , “Verão de 84” diverte ao longo do filme e nos faz ter aquele jogo gostoso de os garotos estão certos/ os garotos estão errados, mas o que me fez realmente adorar esse filme e indicá-lo com entusiasmo nessa lista foi o terceiro ato dele, é bastante surpreendente e nos faz querer coisas a mais a respeito da história (apesar de eu achar que uma continuação seria desnecessária o final ficou perfeito da maneira que aconteceu).

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Maysa Costa

Amante de filmes, desenhos, livros, séries, HQ’s e cultura pop em geral